Nas últimas décadas, ganhou impulso a devolução de materiais historicamente patrimonializados e mantidos em museus e arquivos às comunidades nas quais esses materiais se originaram. Neste artigo, abordo especificamente o retorno de imagens pertencentes a arquivos visuais etnográficos, combinando um estudo biográfico das imagens patrimonializadas com a etnografia de sua devolução. Busca-se ponderar a especificidade desse tipo de retorno e problematizar a noção de “repatriação visual”, a partir de uma abordagem do arquivo visual desde as práticas de memória de pessoas que expressam um vínculo afetivo com o que é representado nessas imagens.
Baseio-me no trabalho de campo realizado entre a população pilagá e criollos do departamento de Patiño, Formosa, entre 2013 e 2019, que se concentrou na discussão e na análise coletiva por meio de oficinas, entrevistas e projeções do longa-metragem mudo “Tras los senderos indios del Río Pilcomayo” (1950), de Wilhelm Hansson e Mauricio Jesperson. Trata-se do primeiro registro fílmico do médio Pilcomayo e de seus habitantes, realizado no início do século XX.
A partir desse estudo de caso, apresento algumas reflexões metodológicas e notas etnográficas sobre o que está em jogo nos retornos visuais, atentando para convergências e divergências nas leituras, interpretações e usos dos materiais de arquivo entre e dentro de cada grupo.